terça-feira, 27 de julho de 2010

Meu Avô e Eu.



"A gente chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o 'pra sempre' sempre acaba." (Cássia Eller)


Ele não pôde me ensinar a escrever, andar de bicicleta, pescar. Quando nasci, ele já falava com um pouco de dificuldade e a bengala era sua melhor amiga ao andar. Ele vinha uma vez por mês em minha casa, assistia ao jogo do Santos e comia pipoca. Ele era um pouco teimoso, não aceitou fisioterapia. Íamos todos os domingos em sua casa. Ele cresceu no sítio. Lá, aprendeu a ser forte. Hoje imagino o quão difícil foi lutar contra as doenças que o tempo vinha trazendo. Criou dez filhos. Sobre seus antepassados, não tenho notícias. Ao fim da vida ele estava frágil, talvez o mundo atual tenha feito com que ele se cansasse depressa. Seus dedos eram tortos por conta do derrame, sua voz era tênue e frágil.
À medida que eu fui crescendo, meu ego foi fazendo com que ficássemos mais distantes. Nem todos meus domingos eram em sua casa. À medida que eu fui crescendo, também, sua vida foi ficando mais próxima do fim, seu cansaço aumentara.
A lembrança mais triste de minha vida foi ouvir seus ruídos – que, sem força, não conseguiam mais se mostrar em palavras – no corredor do hospital, implorando para que voltássemos e continuássemos consigo até o fim, não tão distante daquele momento. Pouco depois, ele resolveu partir. Eu não quis muito acreditar na verdade de perdê-lo, mas hoje creio num descanso no qual ele repousa, muito distante daqui, numa realidade espiritual onde as doenças e os males terrenos não podem alcançá-lo.
Ele não pôde me ensinar a fazer coisas que outros avós ensinam aos seus netos, mas sua lembrança, que reside no fundo da minha alma, pôde me ensinar muito mais coisas, sentimentos que o tempo não é capaz de apagar e que as palavras não são capazes de expressar.











G’ Stresser.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amigando


Não tenho tempo (23:45). Julho, 20. Amizade.
A amizade. Como poder transformar em palavras um sentimento que o homem mal consegue interpretar interpessoalmente?!
Quando se é amigo, o coração tem ao menos um motivo para tornar-se frágil. Quando se é amigo, ama-se com afeto e carinho, um alimento tão saudável para a mente quanto o amor para o espírito.
A amizade gosta de paradoxos. Em um momento é tão frágil como um cristal fino, no qual depositamos todo o cuidado possível para que não aconteça nada que faça com que se quebre. Outrora, é tão sólida quanto uma muralha. Nada nem ninguém a abala. Nem ventos, nem tempestades, tampouco a pequena força humana.
A amizade é guerreira. Ela luta bruscamente para unir as pessoas. E também para unir às pessoas um devido sentimento, o seu sentimento, o seu eu. A amizade busca certa conexão entre elos perdidos, um resgate a uma união desconhecida, misteriosa, anciã, sentimental, nada que pode explicar a razão humana.
A amizade tem a capacidade de construir. Ela constrói amigos: a família capaz de ser escolhida. Também tem a capacidade de destruir: a amizade destrói qualquer desavença. E se não destruir, não é a pura amizade.
Ser amigo é ser um irmão mais especial: aquele que luta para mostrar amor e afeto quando faltam os laços de sangue para comprová-los.
Feliz Dia do Amigo.









G’ Stresser.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Game Over

Eu queria era dizer diferente, aquilo que todo mundo sente, mas não consegue expressar. (Priscilla Leone)


Meus dedos doem, faz muito frio neste momento. Não gosto de desperdiçar palavras, jogá-las em um nada sem um motivo realmente cabível. Mas eu preciso escrever.
Meu dia foi realmente metódico, a sinusite gritou forte na minha cabeça, mas estou melhor do que ontem.
Eu preciso de algumas doses nesse momento.
Uma dose de Budesina para controlar o nariz gripado, por favor.
Uma dose de calma e um mantra indiano.
Acima de tudo, uma bela e farta dose de egoísmo e frieza. Certa vez, uma pessoa muito especial me disse que eu precisava de um pouco mais de egoísmo.
Ando precisando de altruísmo próprio. Preciso subir todos os montes gelados que existem dentro de mim antes de querer abraçar o mundo.
Não, eu não quero desperdiçar ‘te amos’ para pessoas que não valham à pena. Já basta um mundo ferido e carente lá fora que precisa distribuir amor para todos.
Por favor, não quero agradar gregos e troianos. Agora chega.
Chega de escrever, de desperdiçar meu tempo com pessoas, sentimentos, gestos e outras coisas que não precisam vir à tona.
E por fim, uma dose de calor humano para esse frio. Ou melhor, uma dose do meu calor humano, por favor. Ces’t Fini.






G’ Stresser.

quinta-feira, 8 de julho de 2010


Vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia. Quanto menor a casinha, mais sincero o bom dia. (Pato Fu)



Acordo com o bule de esmalte apitando no fogão. Sono fácil e goiabada cascão, hora de começar mais um dia. Maior é a alegria nascida na terra brotada. Mais alegre ainda é a passarada que nas nuvens cirandeia. O sangue que corre nessa veia é a água que saúda a plantação. Dói e amarga o coração quando o homem desmembra e sair voar pela selva de pedra.
Borda um tapete a filha e a mãe um pano de prato. O pai à Deus é grato pela farta colheita. Com a vida sastifeita, a vó reza o terço sempre às três.
A Roça Vida se cansa ao fim do dia. Sonolenta e doída, a alegria boceja. Um pedaço do bolo de fubá, ao fim do dia, é o que se deseja. Pés sujos na bacia de lata. Enquanto canta o luar lá fora, o lampião tira um cochilo e o silêncio faz a festa.
Sinfonia boa é a da floresta que permeia o sítio cercado. Lá fora, um vento suspeito, frio, meio amargurado.
Acordo com o bule de esmalte que apita novamente no fogão. Mais um dia pela frente, sono doce, goiabada cascão.












G’ Stresser.