sábado, 24 de dezembro de 2011

364 Natais

Desde que soube que Noel não existe, me entala na garganta a cara do Natal. E, mesmo sob o torpor de tanta maquiagem, sua feição é sempre pálida, sempre embrulhada em papel-seda.

Optamos pela vontade escandalosamente secreta de comer a coxa do peru, de escapar dos presentes-de-grego de uma tia avó, de beber até que o Eno nos ajude. Nós somos assim. Podia ser fácil – como quando inventamos essa data para celebrar a fraternidade gelatinosa; aquela que, sem cheiro nem gosto, enche a barriga de muitos – crer na fé das coisas miúdas, dos gestos pequenos, dos sentimentos mais limpos e tenros, dos outros trezentos e sessenta e quatro natais.

A gelatina da fraternidade desce vagarosa pela garganta. E isso é o que importa. Enquanto houver digestão, há fome. E que os Natais, maquiados ou desnudos, continuem a matar todas as fomes do mundo.





Guto Stresser

sábado, 10 de dezembro de 2011

Farsa




Faz-de-mim teu palco
Percorre as linhas do espetáculo
Em único ato
O tato
E, voilà, nosso teatro.





sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ácido Lar

O bom filho a casa torna. O mau, por sua vez, faz assim:

É bom ter-me de volta ao blog. Sinto-me aconchegado novamente, numa fria – e agora cinza – certeza de que quando saímos do lugar onde tudo começou fica o sabor da saudade sempre enroscado em algum vão entre os dentes.

O blog cresceu, tomou suas próprias rédeas. Eu e ele demos um tempo para a nossa relação. Conheci novos ares, me aventurei em projetos mal-cabidos que acabaram trazendo grandes conquistas, levei meu sujo trabalho a sério.

Aí voltei. Com a cara lavada, a alma renovada, a cabeça de sempre com novos TOCs que o tempo proporcionou. Voltei e, quando abri os olhos, isso aqui já tinha dois anos de existência. Hoje. Nove de dezembro de dois mil e onze.

Dois anos de uma casa velha que – apesar de todas as estadas em outros lugares – posso chamar de lar. Lar, ácido lar. E o filho que retorna não é mau. É o pródigo. E de prodigalidades estamos cheios. A necessidade rege o homem.

E necessariamente estou aqui. Aprazível Irreprochidez, feliz aniversário. Eu voltei.




Guto Stresser