quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Poema para a avó
domingo, 23 de dezembro de 2012
Desenhar
domingo, 2 de dezembro de 2012
Refúgio
Deus, Todo Poderoso, leva-me no primeiro instante após a morte a Pernambuco, larga-me em Olinda durante a noite para que eu expurgue meus pecados na Praça do Carmo. E inicie a subida, passando pelos Quatro Cantos, sentindo o cheiro de tuas casas e de teus telhados que na madrugada são tão quietos.
Leva-me, Senhor, à Igreja do Amparo, e a Lua que pendula na Tua toalha bordada de estrelas, que ela seja testemunha de meus arrependimentos. Que desponte, súbito, Teu Sol. Que vá crescendo e derramando e consumindo o frescor que concedes a esse povo apenas durante o escuro. E que às 5 eu suba, meu Deus, pela Ladeira da Sé, decifrando o calor que dilata cores, janelas, amores, mulatas e torres que erguem em Teu nome e em nome de Tua mãe compadecida, Maria, Senhora dessa gente.
E enquanto velam minha imagem longe dali, que eu chegue ao Alto da Sé, pico deste quente paraíso que criastes no nada. E limpo de males, que eu possa descansar na paz de Teus mirantes, à beira de Teus coqueiros, sob a eternidade que Teus anjos emanam em amor a esta terra.
domingo, 28 de outubro de 2012
sábado, 20 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
sábado, 22 de setembro de 2012
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Crua
terça-feira, 10 de julho de 2012
domingo, 8 de julho de 2012
sexta-feira, 6 de julho de 2012
quarta-feira, 13 de junho de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
Sobre a dor e suas presas
sexta-feira, 27 de abril de 2012
sábado, 14 de abril de 2012
domingo, 8 de abril de 2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
Autoflagelo
segunda-feira, 5 de março de 2012
Acalendar
Janeiro amava Dezembro
Novembro a contra gosto e Março
Casou-se com Junho
Julho namorava Maio
E no meio de outubro
Fevereiro, desfalcado,
Abril seu coração.
Guto Stresser
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Caixa Postal
É que, às vezes,
A gente liga tanto
tanto
Mas tanto
Que o coração se cansa
E se tira do gancho
Bate, assim,
Machucado
tu
tu
tu
E mostra:
Não menos, por fim
continua ocupado.
Guto Stresser
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
O Milagre da Língua
Para ler com calma
Já parou pra analisar o corpo, o contorno, a voz das palavras? Véspera, por exemplo, olha que lindo. Véspera; véspera podia ser o nome da soberana de algum feudo europeu: “Rainha Véspera”. E falando em realeza (essa é outra palavra que tem cor de ouro), existem aquelas palavras trans, que nos enganam bem direitinho. Plebe. Percebe a sonoridade? Plebe... plebe é uma palavra tão bonita que a gente esquece do significado se ousar em recitá-la continuamente.
Chávena. Sinta a harmonia dessas letras juntas. Chávena daqui, chávena de lá. O café pode ser o mesmo, mas convenhamos que fica mais saboroso numa chávena do que em qualquer xícara. Xícara é esquisito. Fale algumas vezes para perceber. Xícara. Xí-ca-ra. Xícara. Xícra. Chica.
Compasso, abraço, tropeço, mormaço... Essa malemolência a cada fim da sílaba parece uma cobra sonolenta, com o guisado bem preguiçoso. Uma cobra com ssssssssssono.
E aquelas, então, que a gente só encontra num pé-de-serra, num terreiro, num sítio, num sertão-de-Nordeste-qualquer? Painho, macaxera, jacutinga, jabuti. Açaí, temporão, bocó, oxalá. Drumir, avoar, ficar a tarde inteira de varde. Ansiar com alguma coisa, ficar aperriado com outra. Uma arretação sem fim.
Oblíquo: essa palavra por si só é oblíqua, curvilínea, voluptuosa; parece dura no começo, mas se a gente fica mastigando logo escorre do canto da boca.
Oblíquo, oblíquo, o b
l
i
q u
o.
Nau, estibordo. Caravela, açude, cais (essa em especial). Há sempre um bocado de mar nas palavras, porque as letras guardam há milênios, em segredo, as amarras do horizontal. Cais. Uma fortaleza de nome. “O cais”.
Renda. Novelo. Carretel: Há aquelas que transformam o proferir em tecer. É como se estivéssemos costurando os pensamentos para no final desenrolar uma manta, um lençol, um abraço. Algo que nos complete. Como fazem os melhores alfaiates, a nossa boca estará sempre afiada para os melhores cortes. E é costurando palavras, de traço em traço, que brota o milagre da língua. Eis o mistério.
Guto Stresser