quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

domingo, 23 de dezembro de 2012

Desenhar




O raio, vendo o chão
e a bola, vendo o campo
assim me sinto
quando vejo
uma parede, em branco
esperando as minhas mãos






domingo, 2 de dezembro de 2012

Refúgio

    para Pernambuco, terra de amores.



     Deus, Todo Poderoso, leva-me no primeiro instante após a morte a Pernambuco, larga-me em Olinda durante a noite para que eu expurgue meus pecados na Praça do Carmo. E inicie a subida, passando pelos Quatro Cantos, sentindo o cheiro de tuas casas e de teus telhados que na madrugada são tão quietos.
     Leva-me, Senhor, à Igreja do Amparo, e a Lua que pendula na Tua toalha bordada de estrelas, que ela seja testemunha de meus arrependimentos. Que desponte, súbito, Teu Sol. Que vá crescendo e derramando e consumindo o frescor que concedes a esse povo apenas durante o escuro. E que às 5 eu suba, meu Deus, pela Ladeira da Sé, decifrando o calor que dilata cores, janelas, amores, mulatas e torres que erguem em Teu nome e em nome de Tua mãe compadecida, Maria, Senhora dessa gente.
    E enquanto velam minha imagem longe dali, que eu chegue ao Alto da Sé, pico deste quente paraíso que criastes no nada. E limpo de males, que eu possa descansar na paz de Teus mirantes, à beira de Teus coqueiros, sob a eternidade que Teus anjos emanam em amor a esta terra.




sábado, 20 de outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

Oco

Amanheço
como se
num tropeço
tivesse-me o sono
surrado o coração.




Guto Stresser

terça-feira, 2 de outubro de 2012

sábado, 22 de setembro de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Crua



Sou emergência
E o calor das coisas 
me queima

Rainha
Plebeia
Doce messalina

Sem miras
Brotam delícias
e perigos
valem a pena

Tudo acontece
tudo é perene
se ninguém olha
tudo incendeia.




Guto Stresser






Quem é você quando ninguém está olhando?

terça-feira, 10 de julho de 2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

Sobre a dor e suas presas

  Quisera que os problemas da vida viessem em doses homeopáticas, um a um, em passos demorados. Quisera que os medos da pouca idade fossem nossas únicas preocupações: o escuro, o monstro que mora debaixo da cama, o bicho papão - como se assim, sob as vendas da inocência, meus olhos não conseguissem ver tudo o que encouraça o coração.


Guto Stresser

sexta-feira, 27 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

Autoflagelo



Entretanto,
Que tanto espero:
Como
Quando
Quanto porquê
Se faz-me belo
Medir o ego?





Guto Stresser

segunda-feira, 5 de março de 2012

Acalendar


Janeiro amava Dezembro

Novembro a contra gosto e Março

Casou-se com Junho

Julho namorava Maio

E no meio de outubro

Fevereiro, desfalcado,

Abril seu coração.



Guto Stresser


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Caixa Postal



É que, às vezes,

A gente liga tanto

tanto

Mas tanto

Que o coração se cansa

E se tira do gancho

Bate, assim,

Machucado

tu

tu

tu

E mostra:

Não menos, por fim

continua ocupado.







Guto Stresser

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Milagre da Língua


Para ler com calma

Já parou pra analisar o corpo, o contorno, a voz das palavras? Véspera, por exemplo, olha que lindo. Véspera; véspera podia ser o nome da soberana de algum feudo europeu: “Rainha Véspera”. E falando em realeza (essa é outra palavra que tem cor de ouro), existem aquelas palavras trans, que nos enganam bem direitinho. Plebe. Percebe a sonoridade? Plebe... plebe é uma palavra tão bonita que a gente esquece do significado se ousar em recitá-la continuamente.

Chávena. Sinta a harmonia dessas letras juntas. Chávena daqui, chávena de lá. O café pode ser o mesmo, mas convenhamos que fica mais saboroso numa chávena do que em qualquer xícara. Xícara é esquisito. Fale algumas vezes para perceber. Xícara. Xí-ca-ra. Xícara. Xícra. Chica.

Compasso, abraço, tropeço, mormaço... Essa malemolência a cada fim da sílaba parece uma cobra sonolenta, com o guisado bem preguiçoso. Uma cobra com ssssssssssono.

E aquelas, então, que a gente só encontra num pé-de-serra, num terreiro, num sítio, num sertão-de-Nordeste-qualquer? Painho, macaxera, jacutinga, jabuti. Açaí, temporão, bocó, oxalá. Drumir, avoar, ficar a tarde inteira de varde. Ansiar com alguma coisa, ficar aperriado com outra. Uma arretação sem fim.

Oblíquo: essa palavra por si só é oblíqua, curvilínea, voluptuosa; parece dura no começo, mas se a gente fica mastigando logo escorre do canto da boca.

Oblíquo, oblíquo, o b

l

i

q u

o.

Nau, estibordo. Caravela, açude, cais (essa em especial). Há sempre um bocado de mar nas palavras, porque as letras guardam há milênios, em segredo, as amarras do horizontal. Cais. Uma fortaleza de nome. “O cais”.

Renda. Novelo. Carretel: Há aquelas que transformam o proferir em tecer. É como se estivéssemos costurando os pensamentos para no final desenrolar uma manta, um lençol, um abraço. Algo que nos complete. Como fazem os melhores alfaiates, a nossa boca estará sempre afiada para os melhores cortes. E é costurando palavras, de traço em traço, que brota o milagre da língua. Eis o mistério.

Guto Stresser

sábado, 14 de janeiro de 2012