sábado, 13 de março de 2010




Confesso que ainda lembro-me de quando decidi comer alface, de quando rabiscava a porta da sala, de quando eu nunca terminava as pinturas em sala de aula e a professora Meire - ainda sonho em revê-la - deixava como tarefa (mesmo assim eu não terminava). Lembro do dia que uma fria lágrima caiu do meu rosto ao saber que minha bisavó havia morrido. Lembro de quando brincava com Dududinha (uma história já contada aqui). Lembro-me do dia em que ajoelhei e agradeci a Deus porque minha mãe estava grávida. Lembro de quando posava na casa da vó morrendo de medo das histórias macabras que o Ratinho mostrava em seu programa. Lembro de quando a Daddy veio posar em casa, e pela manhã ela me deu pão com Nesquik. Também me lembro de quando ela quis botar na minha cabeça a tabuada do sete enquanto tinha apenas cinco anos. Lembro de quando ia à missa das quartas-feiras com minha avó. Lembro da saborosa salada de tomate que minha tia fazia. E de todas as lembranças, a que mais perece é aquele elefantezinho à corda que cantava musiqueta para eu dormir. E de todas as saudades, ainda não sei ao certo onde se encontram os resquícios desse elefante, nunca mais o reencontrei.


Confesso que ainda anseio viajar o mundo, conhecer novos lugares. Ainda anseio me tornar um doutor da alegria, fazer meu documentário e ter uma casa no sítio. Quero ainda ficar velho. Quero ainda, quando adulto, voltar às minhas origens. Quero ainda escrever livros e cativar mais as pessoas que amo. Quero ainda deixar de ser tão desse jeito e aprender a valorizar somente a quem merece. Ainda vou mudar de vez, aprender a amar a vida. Ainda anseio conhecer realmente quem são as cobras e os coelhos. Ainda vou ter uma chinchila. Ainda vou conhecer os filhos do Rei Sebastião na Ilha dos Lençóis. Um dia vou ter um piano de cauda. Ainda tocarei nos pés da sabedoria. Um dia, quem sabe, descubro quem são pessoas. Mas antes disso, anseio - e anseio muito – descobrir, enfim, quem sou eu.


Confesso que ainda penso que pessoas não nasceram pra existir, mas sim para viver. Ainda norteio-me pela lei do Karma, o ato e feito. Ainda penso em nunca me separar de mim mesmo. Ainda penso que no fundo os seres humanos têm um valor imensurável, mas ainda assim deixam se cobrir pelo lodo da ignorância. Ainda penso em continuar ouvindo Cássia, comendo alfajor e bebendo chá verde.
Ainda penso. Ainda sou. Mas acima de tudo, ainda vou ser. E vou.


Agora tenho que confessar que sou mais amigo do Confesso-Que-Ainda-Penso que do Confesso-Que-Ainda-Lembro e do Confesso-Que-Ainda-Vou. Por quê?
Porque o ele é quem me faz ser. Ele sou eu, e os dois outros amigos Confessos são apenas membros repartidos do meu pensamento.






G' Stresser.

3 comentários:

  1. muito bom esse seu texto
    achei ele lindo
    parabéns
    vc é um genio

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  2. Ter a coragem de confessar os anseios da nossa alma já um passo grande. Ansiar, desejar e querer faz parte de nós e um dia, desta forma, podemos realizar. Nem que seja em pensamentos vivos. Parabéns, me senti "em casa" aqui no seu blog!

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  3. o tal do pão com nesquik tras otimas lembraças da minha infancia .muito booom

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liberdades saborosas